Alto Alegre,

Cresce número de profissionais de saúde mortos por covid em RO
Do total de 53 óbitos registrados desde o começo da pandemia, 13 ocorrem só no mês de março

Publicado 31/03/2021
Atualizado 31/03/2021
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“Desde o início da pandemia uso a minha casa somente para dormir, isso quando consigo”, o desabafo é do médico Billy Paul, um dos profissionais que atuam na linha de frente no combate a pandemia do Coronavírus em Rondônia ao relatar a rotina de trabalho exaustiva no Hospital de Campanha Zona Leste em Porto Velho.

“O pior de tudo é perceber que estamos perdendo a guerra contra esse vírus, principalmente pela falta de consciência de muitas pessoas que continuam em festas clandestinas e fazendo aglomerações”, lamenta o médico. Segundo ele, a população reclama que está trancada em casa, mas são os profissionais de saúde que não têm mais vida fora do hospital. 

Acostumado a rotina das unidades de tratamento intensivo, o médico alerta que antes da pandemia, em uma UTI com 12 leitos os pacientes costumavam apresentar quadros clínicos diferentes, sendo necessário entubar uma média de apenas três desses pacientes, mas hoje todos sem exceção precisam ser entubados.

Segundo ele, cada profissional chega a fazer uma média de quatro intubações por dia. É um procedimento cansativo e estressante, tanto para o paciente quanto para os profissionais.

“Nossos profissionais estão esgotados física e mentalmente em função da sobrecarga de trabalho e precisam ser tratados com dignidade”, enfatiza o presidente do Coren-RO Manoel Carlos Neri da Silva. Isso sem contar o fato de que estão mais expostos a doença. A taxa de infecção desses profissionais é de 7,3% contra 5% da população em geral. 

Covid entre os profissionais

Desde o início da pandemia, Rondônia já teve 7.211 profissionais da saúde infectados pelo novo coronavírus (Covid-19). Os dados foram atualizados pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), nesta segunda-feira (29). Deste número, 6.782 profissionais se recuperaram e 53 morreram em decorrência de complicações da doença.

Entre os pacientes, estão técnicos de enfermagem (22), farmacêuticos (11), enfermeiros (7), médicos (6), condutores de ambulância (4), agentes comunitários de saúde (2) e nutricionista (1), que estão há mais de um ano na linha de frente contra a doença. 

Dados do Ministério da Saúde apontam que, entre profissionais de saúde, no Brasil uma morte é registrada a cada 19 horas levando em conta dados do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), que é alimentado com a base de dados declarações de óbito e o Sivep-Gripe, sistema de Informação de vigilância epidemiológica da gripe em que o campo referente a profissão não é de preenchimento obrigatório. Por isso que os Conselhos Federais de Medicina (CFM) e e Enfermagem (Cofen) acreditam em subnotificação, no ano de 2020.

De acordo com dados levantados pelas duas entidades, no ano passado, apontam a morte de 551 médicos e 646 enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem em todo o país, uma média de uma morte a cada sete horas e meia.

A última perda divulgada, no site do Conselho Regional de Enfermagem de Rondônia (Coren-RO) foi em 29 de março quando a jovem enfermeira Pâmela Artioli, de Ariquemes, perdeu a batalha contra a Covid-19. E, infelizmente, esse não é um caso isolado com uma crescente a cada mês, sendo 13 registradas somente em março.

Mortes no Brasil

O Brasil responde por um terço das mortes globais entre profissionais de enfermagem por covid-19, um dado alarmante entre profissionais que se dedicam a salvar vidas. O dado global mais recente sobre letalidade da covid-19 entre profissionais da área foi divulgado em novembro pelo Conselho Internacional da categoria, e dava conta de 1.500 mortos em 44 países —a cifra já deve ter sido superada.

“O fato de que o número de enfermeiros e enfermeiras mortos na pandemia seja similar aos que faleceram na I Guerra Mundial é chocante”, afirmou Howard Catton, chefe-executivo da entidade durante a divulgação do relatório de óbitos, fazendo um paralelo entre a atual crise sanitária e um dos conflitos mais violentos da história humana.