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Conheça a Flona Jamari em RO, modelo de manejo sustentável que será apresentado na COP-30
A Floresta Nacional do Jamari (Flona), que abrange os municípios de Itapuã do Oeste (RO) e Cujubim (RO), foi a primeira do país a ter autorização para derrubada de madeira de forma legalizada. Com os resultados positivos, o governo federal pretende apresentar o modelo na COP-30, em Belém, como exemplo de exploração florestal que alia preservação e desenvolvimento econômico.
Após 15 anos de concessão, o projeto é considerado bem-sucedido, com manejo controlado de espécies valorizadas, que seguem para o mercado internacional pelo rio Madeira e sustentam cerca de 400 empregos diretos. Atualmente, o Serviço Florestal acompanha mais de 25 projetos no país, mas a atividade realizada em Rondônia foi escolhida para representar a Amazônia no encontro global.
“Essa é uma atividade de bioeconomia, é como utilizar a floresta, os recursos florestais para manter a floresta em pé e a gente vai fazer uma série de atividades na COP-30 para mostrar a sustentabilidade desse processo para o mundo”, disse o diretor de concessões do Serviço Florestal Brasileiro, Renato Resenberg.
Imagens de satélite mostram que, nos últimos nove anos, enquanto áreas ao redor foram desmatadas, a Flona Jamari e a Flona de Jacundá permaneceram preservadas, evidenciando o impacto positivo da exploração sustentável
De acordo com o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Carnelli Durigan, o objetivo é expandir o modelo de Rondônia para todo o país.
“Nós vamos ter que olhar as peculiaridades, mas o bioma amazônico brasileiro nos dá muito orgulho e a gente precisa cuidar da nossa Amazônia. E a gente acha que esse modelo aqui de Rondônia, o que a gente presenciou hoje, é o modelo certo para a gente continuar investindo”, disse.
Como funciona o projeto?
Árvores da Flona Jamari — Foto: Leiliane Byhain/Rede Amazônica
Criada em 1984, a Flona do Jamari tem mais de 220 mil hectares e cerca de 90 mil são concedidos à produção de madeira sustentável. Empresas retiram árvores de forma controlada, com base em estudos ambientais: em um hectare, equivalente a um campo de futebol, podem ser derrubadas apenas 3 a 4 árvores.
A 'remoção' das árvores de forma sustentável é feita pela Madeflona. De acordo com o diretor da empresa, Evandro José Muhlbauer, a área é dividida em pedaços e cada um é explorado em um ano. A ideia é que, no 31º ano, a equipe retorne à primeira área já recuperada.
“Essas técnicas, esse conjunto de técnicas que a gente chama de exploração de impacto reduzido permite com que a floresta recupere, obedecendo todos os critérios da sustentabilidade e mantendo toda a floresta viva”, explicou.
A madeira extraída das florestas nacionais do Jamari e de Jacundá segue para duas serrarias do complexo Madeflona. Juntas, as unidades têm capacidade de processar até 60 mil metros cúbicos de toras por ano. Desse total, cerca de 30% abastece o mercado interno, enquanto 70% é exportado, principalmente para Estados Unidos, Portugal e Holanda.
O governo considera o projeto bem-sucedido e quer usá-lo como exemplo. Segundo o diretor-geral do Serviço Florestal Brasileiro, Garo Batmanian, o manejo ajuda a atender a demanda por madeira sem incentivar o desmatamento ilegal.
“Isso vai diminuir a pressão do desmatamento, em vez de fornecer madeira para o mercado por meio do desmatamento, vamos fornecer madeira para o mercado, para os móveis, para as coisas, para piso, para tudo que a gente usa, vamos fazer isso com um manejo sustentável. A floresta vai continuar aqui por 30, 60, 90 anos sem nenhum problema, mas o importante, o ponto inicial é que floresta em pé tem valor e você pode explorar madeira na Amazônia sem causar desmatamento”, disse.
Povos indígenas
As práticas de manejo envolvem consultas aos povos indígenas da região. Para o líder indígena Nilcélio Jiahui, coordenador executivo da Organização dos Povos Indígenas do Alto Madeira (OPIAM), os projetos precisam passar por consulta prévia, livre e informada, pois o manejo pode ser aliado no combate ao desmatamento.
“Eles respeitam essa área, eles tiram do projeto e também lançam o propósito de revitalização dessas áreas degradadas onde o projeto vai alcançar. E com os incentivos sociais que esse projeto lança, ele é revestido nas comunidades em construção de escolas, em construção de beneficiadoras de açaí. Ele leva uma melhoria de qualidade de vida para os povos indígenas desde que seja conversado e dialogado com os próprios indígenas da forma que eles vivem tradicionalmente dentro dos seus territórios.”
Certificação internacional
Toda madeira extraída precisa ter certificação independente, concedida pelo FSC (Forest Stewardship Council), organização presente em 89 países. De acordo com o diretor executivo do FSC Brasil, Elson Fernandes Lima, uma auditoria é realizada para checar o cumprimento de requisitos no local.
“Ele utiliza tanto documentos para verificar as evidências do cumprimento das nossas normas, como também visita a área florestal e conversa com funcionários e com as pessoas que estão no entorno, para ter certeza de que os requisitos da certificação FSC são cumpridos e aí sim essa madeira pode sair recebendo o logo do FSC, o selo de certificação.”